Falarmos da Trilogia Nocturnos é falarmos de Rafael Loureiro.
Os livros – os dois primeiros publicados, inicialmente, em edição de autor – são recheados de acção e revelam vampiros humanos.
O que é que isto significa?
Nunca antes tinha lido literatura vampírica – perdoem-me a catalogação -, no entanto, já vi filmes e séries televisivas. Os vampiros surgem sempre como seres malévolos – quase servos do demónio e dos infernos – e, de vez em quando, lá surge um com maior repúdio à sua própria natureza, disposto a abdicar da sua eternidade, normalmente, para salvar um mortal – desculpem-me o traçado caricaturista.
Os vampiros do Rafael, pelo contrário, são pessoas – são gente. Têm vidas como qualquer um de nós, sujeitas aos condicionalismos da sua natureza, mas são iguais a qualquer pessoa que esteja a ler este texto. Basta pensarem, um pouco: em vez de sangue, imaginem outra coisa qualquer de que precisem; pode ser qualquer coisa… Já imaginaram?
De vampiros, todos temos um pouco; não é?
Podem dizer que não, se atentarem na forma como se satisfazem; mas se pensaram na natureza da necessidade, terão de dizer que sim.
Portanto, o que temos, nesta Trilogia magnífica, e que – a meu ver – preencheu um vácuo existente no género Fantástico, e especificamente Vampírico – perdoem-me mais uma vez -, é a história de uma sociedade – Nocturnos – que nos é contada pelas palavras de Deimon Dellmona, mostrada pelos seus actos e sentida pelas suas emoções.
Os vampiros vivem muito tempo, o que pode ter sido um desafio para o escritor que se aventurou em terras da Arcana. Mas se o foi, Rafael, ultrapassou-se exemplarmente, pois fez-nos sentir o peso dos séculos sem arrastar a narrativa; os saltos no tempo são perfeitas notas 10.
Todos os livros são bons: bem escritos, fluídos, intensos. Todavia, há sempre um que sobressai. Para mim, o eleito, é o último: A Redenção. Foi um livro que devorei.
Este comentário não estaria completo sem falar do Escritor Rafael Loureiro.
O Rafael mostrou perseverança. Acreditou no seu trabalho e lutou por ele. A aposta da Presença é, sem dúvida, uma merecida recompensa; tal como o é tudo aquilo que floresceu á sua volta: um CD, uma Banda Desenhada, um filme.
Contudo, Rafael também acredita no trabalho dos outros; o que mostra que não se esqueceu das dificuldades que sentiu, enquanto escritor, nem de como é difícil bem publicar em Portugal.
Exemplo disso é a Iniciativa Exposição Novos Autores: uma exposição itinerante que pretende mostrar novos autores portugueses por este nosso país. Infelizmente, como tudo o que respeita à cultura em Portugal, não tem fundos próprios e está dependente da boa vontade das autarquias e associações; a receptividade daquelas entidades tem sido positiva.
Esperemos por mais.